quinta-feira, 29 de março de 2007

mentes brilhantes



(Ben Harper & Eddie Vedder, 'Indifference' Live @ Madison Square Garden)

will light the match this mornin', so I won't be alone | Oh, watch as she lies silent, for soon night will be gone | I will stand arms outstretched, pretend I'm free to roam | Oh, I will make my way, through one more day in hell | I will hold the candle till it burns up my arm | Oh, I'll keep takin' punches until their will grows tired | I will stare the sun down until my eyes go blind | But, I won't change direction, and I won't change my mind | How much difference does it make | Oh, how much difference does it make | I'll swallow poison, until I grow immune | I will scream my lungs out till it fills this room | How much difference does it make | Oh, how much difference does it make | Oh, how much difference does it make | Oh, how much difference does it make

sofrimento | pedro paixão



(São Pedro de Moel; Foto, Míriam)

«O sofrimento pode ter sentido, transformar-nos por dentro. É preciso paciência. Porque o tempo parece nunca mais acabar e somos projectados para um ponto muito longe de convívio entre os humanos. Faz parte do sofrimento deturpar as coisas, vê-las através de lentes tão forte que facilmente entontecemos, nos desequilibramos, caímos. Temos medo de tudo, de nós mesmos. A simples superfície das coisas nos agride. Somos assaltados por demónios que nos roem a alma. É um tormento em que nos atormentamos. É preciso ter paciência e o mais das vezes não a temos. A violência da vida bate-nos em cheio. Procuramos abrigos e todos cedem e nenhum é suficiente. Recordamos a paz que perdemos como o bem mais precioso, ignoramos o caminho que nos traga de volta a nós próprios. Falta-nos a coragem, mas para ela nem encontramos motivos. O mundo todo é um mal-entendido que aguardamos que se resolva ou estoire e enquanto nada acontece sofremos. Agarramo-nos a coisas que se nos escapam entre os dedos. Só a morte está por todo o lado desperta, cerca-nos, olha-nos com olhos muito abertos, mete medo. Fechamos os olhos, mordemos os lábios, fugimos para debaixo da cama e não há maneira. O amor é uma coisa tão distante, tão impossível. Vivemos, momento a momento, uma solidão que nos aperta a garganta, faz de nós o que quer. Uma música, uma palavra, a folha caída e é o suficiente para nos trazer uma irremediável precisão de chorar. E quando choramos não sabemos bem porque o fazemos, é só a tristeza a tomar conta de nós. O sofrimento pode ter sentido, transforma-nos por dentro. Meu Deus, fazei que assim seja. Dai-nos paciência e uma pequena esperança. Ajudai-nos a aceitar quem somos. Salvai-nos da confusão. Obrigai-nos a prosseguir, porque ignoramos.»

Pedro Paixão - Amor Portátil

quarta-feira, 28 de março de 2007

Déjà Vu!

Déjà Vu!!
- E fazes-me mal!!... Definitivamente fazes-me mal! O meu estômago contorce-se, a minha expressão muda de figura e só me apetece ‘partir-te a cara’ porque me obrigas a tomar atitudes que abomino… tudo pela tua estúpida cisma de achares que o mundo nasce de ti e para ti, esse movimento ininterrupto com que observas a realidade sem por um momento reflectires sobre o outro ou responsabilizares-te pelas tuas próprias atitudes… Tudo o que hoje tens, por ti foi semeado…
Merda! Gostava que tivesse sido de outro modo…
Tenho dito!...

segunda-feira, 19 de março de 2007

o lúcifer da idade moderna...

Porque me revolta, porque me chateia, porque me indigna... porque há 'bois da beira' (perdoem-me a expressão) que simplificam tudo na premissa 'os portugueses não querem trabalhar!'... mentalidades, portanto!!
Em jeito de resposta deixo-lhes Pierre Bourdieu (1998).

«(...) Foi claramente exposto que hoje a precariedade está em toda a parte. No sector privado, mas também no sector público, que multiplicou as posições temporárias e 'a recibo', nas empresas industriais, mas também nas instituições de produção e difusão cultural, educação, jornalismo, meios de comunicação social, etc., com a precariedade produzindo efeitos sempre mais ou menos idênticos e que tornam particularmente visíveis no caso extremo dos desempregados: a desestruturação da existência, privada entre outras coisas das suas estruturas temporais, e a degradação de toda a relação com o mundo, com o tempo, com o espaço, que se lhe segue. A precariedade afecta profundamente aquele ou aquela que a sofre; tornando todo o futuro incerto, proíbe qualquer antecipação racional e, em particular, esse mínimo de esperança e de crença no futuro, que é necessário à revolta, sobretudo colectiva, contra o presenta, por mais intolerável que este seja.
(...) A precariedade nunca se deixa esquecer; está presente, a todo o momento, em todas as cabeças (excepto decerto nas dos economistas liberais, talvez pelo facto de, como observava um dos seus adversários teóricos, beneficiarem dessa espécie de proteccionismo representado pela 'tenência', posição de titulares que os arranca à insegurança...). Obsidia as consciências e os inconscientes. A existência de um importante exército de reserva, que já não se encontra apenas, dada a sobreprodução de diplomados, nos níveis mais baixos da competência e da qualificação técnica, contribui para fazer sentir a cada trabalhador que ele nada tem de insubstituível e que o seu trabalho, o seu emprego, é de certo modo um privilégio, e um privilégio frágil e ameaçado (...). A insegurança objectiva é a base da insegurança subjectiva generalizada que afecta hoje, no coração de uma economia altamente desenvolvida, o conjunto de trabalhadores (...). Esta espécie de 'mentalidade colectiva', (...) comum a toda a época, encontra-se no princípio da desmoralização e da desmobilização que se pode observar (...) em países subdesenvolvidos, castigados por taxas de desemprego ou de subemprego, muito elevadas e perseguidos permanentemente pelo medo do desemprego.
(...) Quando o desemprego, como hoje em numerosos países europeus, atinge taxas muito elevadas e a precariedade afecta uma parte muito importante da população (...) o trabalho torna-se uma coisa rara, desejável a qualquer preço, que põe os trabalhadores à mercê dos empregadores e estes, como podemos verificar todos os dias usam e abusam do poder que assim lhes é dado. A concorrência em torno do trabalho é redobrada assim por uma concorrência no trabalho, que continua a ser uma forma de concorrência em torno do trabalho, que é preciso conservar (...) contra a chantagem do despedimento Esta concorrência, por vezes tão selvagem como aquela a que as empresas se entregam, encontra-se no princípio de uma luta contra todos, que destrói todos os valores de solidariedade e de humanidade e, por vezes, assume uma violência sem disfarce.
(...) Assim a precariedade age directamente sobre aqueles que toca (....) e indirectamente sobre todos os outros, pelo medo que suscita e que é metodicamente explorado pelas estratégias de precarização, como a introdução da famosa 'flexibilidade' - cuja inspiração, bem entendido, remete tanto para razões políticas como económicas. Começamos assim a entrever que a precariedade é produto não de uma 'fatalidade económica', identificada com a famosa 'mundialização', mas de uma vontade política. A empresa 'flexível' explora de certo modo deliberadamente uma situação de insegurança que contribui para reforçar: procura baixar os seus custos, mas também tornar possível essa baixa pondo permanentemente o trabalhador em perigo de perder o seu trabalho. Todo o universo de produção, material e cultural, pública e privada é assim arrastado por um vasto processo de precarização, associado por exemplo, à desterritorialização da empresa (...).
Ao facilitar-se ou organizar-se a mobilidade do capital, e a 'deslocalização' para os países com salários mais baixos, onde o custo do trabalho é mais fraco, favoreceu-se a extensão à escala mundial da concorrência entre os trabalhadores (...).
A precariedade inscreve-se num modo de dominação de tipo novo, baseado na instituição de um estado generalizado e permanente de insegurança visando coagir os trabalhadores à submissão, à aceitação da exploração. Para caracterizar este modo de dominação (...) houve aqui alguém que propôs o conceito, ao mesmo tempo muito pertinente e muito expressivo, de flexploração. o termo evoca muito bem essa gestão racional de insegurança.
(...) Contra tal regime político, a luta politica é possível. Pode dar-se em primeiro lugar como fim, como a acção caritativa ou caritativa-militante, encorajar as vitimas da exploração, todos os precários actuais e potenciais, a trabalharem em comum contra os efeitos desestruturadores da precariedade (...), e sobretudo a mobilizarem-se, à escala internacional (...).
Para que o sistema económico funcione, é preciso que os trabalhadores nele introduzam as suas próprias condições de produção e de reprodução, mas também as condições de funcionamento económico, a começar pela sua crença na empresa, no trabalho, na necessidade do trabalho, etc.»

(Pierre Bourdieu, 1998, Contrafogos, pp.113-120, Edições Celta)

quarta-feira, 14 de março de 2007

aniversarios...


(mica (on the left side), me (in the center), and joana (on the right side))

As minhas melhores amigas fazem anos este mês... assim como eu. O que nos une? Uma profunda amizade que dura há anos, Mica, dia 14, Joana, dia 19 e eu, dia 22... Março... excelente mês para um colheita interessante...
Nos bons e maus momentos têm sido uma presença constante, mesmo quando a distância nos separa. Sem sufocos ou cobranças emergimos a cada dia, alegrando-nos mutuamente. Indubitavelmente é essa a grande mais valia, a unicidade na liberdade, a aceitação na diferença... incondicionalmente somos como um bom vinho tinto, aveludado, que ganha a cada ano um sabor inigualável...
Porque quem tem amigos, nunca está só!... A vocês, minhas caras!! Um brinde...

sábado, 10 de março de 2007

ausência

…Fui buscar-te ao baú das minhas recordações. Estavas pálido e com algum pó mas ainda assim reconheci o teu sorriso. No dia que decidi trancar-te, sabia da inevitabilidade deste momento, a saudade…
Culpas?! Culpados?! Somos todos um dia, fui eu… foste tu… fomos… mas é isso mesmo que nos torna hoje inocentes.
Ficou a tua doçura na minha memória, e do silêncio a minha decisão de abandono. Terminado está…, já não te lembras do meu sorriso, e eu vou esquecendo o sofá azul…
Prefiro pensar que tudo acontece por um motivo, com um propósito. O sentido sempre foi parco nas suas explicações e por isso mesmo deixo-me fluir cada dia livremente, deixando para o outrora o que poderia ter sido e não foi.
Encontrei-te no acaso. Continuas preso… agarrado à maldita e falsa sensação de liberdade que te tolda os sentidos e emoções. Nesse parco instante preferi que mil baldes de água gélida me inundassem o corpo…
Deixar-te partir é por vezes tão difícil e doloroso que sinto a alma em chamas! Mas não é essa a essência do que fica?! A essência de quem amou um dia… inexoravelmente…
Gostaria hoje ter dez anos e amar a perfeição dos momentos, dos gestos, das coisas, sem esperar receber nada em troca. Amar incondicionalmente… simplesmente porque se ama. Sim, porque não é preciso sentido para amar-se… apenas uma qualquer luz que se esquadria na nossa alma e nos aquece nas noites frias. És tudo isso, o calor nos dias frios, a frescura dos verões intensos, a alegria no choro… Mas hoje e agora és somente o meu silêncio distante, de quem já não tem medo de partir sem deixar rastro…
Não precisas de existir em mim, porque ÉS… o teu semblante permanece à medida a que os meus olhos se humedecem, ainda que sem frescura… e tudo se resume à tua ausência, silenciosamente sentida…
…Amanhã é outro dia…