terça-feira, 6 de junho de 2006

estórias

vale furado, junho 2006
...talvez porque hoje faz sentido...
Tentou escrever sobre a ausência, mas não havia palavras que pudessem descrever a tempestade de sentimentos que parecia experimentar.

O céu estava particularmente cinzento e o calor que se fazia sentir era prenúncio de uma chuvada de verão…
“Talvez tenhas levado contigo também o sol…”, sussurrou de forma quase inaudível à medida que as lágrimas lhe obscureciam involuntariamente a visão.
Permaneceu quieta e silenciosa. Ouvia Chopin mergulhada não sei se em recordações se na sua própria tristeza. Examinei-lhe a face e senti-lhe o agravo da perda.
Ele tinha partido em busca dos seus sonhos e aspirações quase poéticas de um “admirável mundo novo” que somente ele parecia conhecer. O entusiasmo como falava daquele que hoje é o seu projecto de vida sempre a comoveu profundamente.
Por vezes penso que foi por isso mesmo que ela se apaixonou por ele incondicionalmente. Confidenciou-me um dia saber que a separação seria irreversível, mesmo que não fosse ocasionada pela distância já o era pela vontade.
Na verdade, eles eram muito diferentes um do outro; ele enamorado pela vida e ela presa a um ciclo de quem se habituou a viver…
Devo confessar que inicialmente tive dificuldade em compreender porque razão continuava ela a alimentar um sentimento que sabia ser unilateral e impossível de concretizar…
Quando questionada respondia-me sempre o mesmo: “A aceitação do outro e das suas opções na sua plenitude é produto de um amor maior, o amor que deveria movimentar todo o MUNDO independentemente do carácter que assumem os relacionamentos…”.
Nunca acreditei nela… até hoje, que ele efectivamente partiu.
Com um brilho especial no olhar disse-me: “Acho que o consigo imaginar a sair do avião… feliz!”
Nesse exacto momento contemplei-a na sua quietude. Lembro-me de os ver juntos a conversar amenamente há uns dias e, seguidamente, das suas palavras. Esboço um sorriso… ela falava a verdade!

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